Embriagados de ódio, os policiais tomaram a última dose de heroína antes de dispararem nas fétidas ruas da metrópole com seus triciclos recheados de signos anarquistas. Armados de machados, correntes e navalhas, dirigiram-se para a praça do relógio; vestiam-se com pinturas indígenas de guerra e ocupavam-se em gritar todo tipo de frase revolucionária. Eram três.

Os pedestres se escondiam dos sons sintéticos emitidos pelos triciclos (ou eram cavalos mecânicos?) que pilotavam. O ar cheirava a carne e a podridão. Carreiras de pó eram inspiradas por anjos, enquanto o trio de policiais atropelava crianças e fazia assobiar a lâmina enferrujada da navalha por entre os pescoços de transeuntes. Os nervos rasgavam por dentro; toxinas subiam e desciam por entre pensamentos filosóficos e libertadores. Burnout baby!

A praça do relógio estava cheia. Muitas pessoas aproveitavam aquelas serenas tardes de Domingo para fazerem orgias e praticarem atos pagãos. A selvageria humana brindava taças em nome dos deuses da perversão! Os nervos aceleravam. Os policiais, lavados de fluidos corpóreos até a alma, corriam ferozmente para seu destino gore. Ácidos energéticos artificiais saltitavam por dentro do crânio coberto por um quepe.

Adentraram a praça; o horror show começaria. A heroína eletrizava os policiais, eletrizava o trio de policiais que assassinavam sob seus três triciclos manchados de excitação. Machados cegos racharam as têmporas de maliciosos que insistiam em praticar posições anormais nas suas orgias. Navalhas deformaram mulheres pagãs em meio a um rito nefasto. Degolaram também, sentindo o espesso líquido vazando por dentro de suas calças, boêmios, sádicos, andróides, magos, demônios e seres invocados por magias proibidas. A praça mergulhava em sangue e ardia como um caldeirão de carne humana; a situação era semelhante ao de um circo de membros removidos cirurgicamente e animados por uma tecnologia doentia.

Mataram todos; estupraram ainda alguns mortos. Os policiais, porém ainda gritavam palavras ininteligíveis e começavam a perfurar seus próprios corpos. Os nervos urravam de prazer, pois ainda queriam mais. Após outra dose de heroína, esta acrescentada de alquímicos, os policiais com pinturas indígenas se entreolharam, fizeram o sinal do caos e puseram-se a matar uns aos outros; tudo ritmado ao som ácido de um jazz decadente.

4 comentários:

Mariane Gerez disse...

Huahuahau

Que imaginação heim! Gostei muito do texto, por incrível que possa parecer achei divertido e engraçado.colpa

Daniel Felismino disse...

Putz Cezar.

eu gostei bastante, imaginei alguma coisa bem "laranja mecânica".

você está escrevendo de maneira bem diferente daquela epoca que me mandou um conto pelo msn lembra? Bem melhor, com todo o respeito; mais interessante, surpreendente.

Abraços daquele seu conhecido carioca.

Rafael "Rato" de Castro disse...

Muito boas as imagens que você constrói... Você já leu o Fausto do Goethe? Me lembra a noite de Walpurgis (é interessante pois no Fausto tem a noite de Walpurgis e a noite clássica de Walpurgis, e você contruiu algo como uma Noite de NeoWalpurgis)

Anônimo disse...

Foda cara, tem sensibilidade, e muita distinção, violência estilizada coisa que o cinema capta muito bem, mas não estamos discutindo isso. Parabens, se puder ver meu blog.

anderson estevan

http://oitavaopiniao.blogspot.com/2008/05/camaradagem.html