Por motivos desse conto ter sido publicado pela editora MOJO BOOKS, peço que acessem o link direto para o site da mesma, lá vocês poderão conferir o conto, comentar e ainda votar nele! Aguardo a visualização de todos os leitores do Tigres de Areia.

Abraços saudosos.



"Não é isso meu bebê, depois a gente conversa, tá? Mamãe tem que trabalhar. Oi, amor, deixa pra depois, tô estourando de dor de cabeça, é... não dá pra falar agora... beijo. Filha, liberei o cartão pra esse fim de semana, juízo. Beijo." A diretora, ao terminar as ligações, percebeu que seus apresentadores engordaram. Ignorou, a rotina permitia certos relaxos.

Dias depois, após rebloquear o cartão da filha como represália, viu um inédito marceneiro no set. "A madeira do palco rachou por excesso de peso". Conversou com o cenógrafo e decidiram reforçar o estúdio.

As novas lentes chegaram em cima da hora. Foram compradas para resolver o problema de obesidade dos apresentadores, que ainda engordavam em progressão. Aliviada, liberou a secretária para comprar o presente do filho, entregar um vinho ao marido e as passagens de avião à filha. O especial de natal entrava no ar em segundos, estreando as novas lentes.

"É a única solução, dona" explicava o cabo-man: a parte elétrica do estúdio estava queimando a gordura dos apresentadores, que, excepcionalmente grandes, perderam o tato. "O problema mesmo é o cheiro de fritura que isso faz, dona". Depois de mandar o motorista tirar o filho do DP e proibir o segurança da filha de deixá-la subir aos bailes da favela, notou que o marido estava ausente há algum tempo. Sacudiu a cabeça de pensamentos mal feitos, decidiu que o programa deveria ser em locação externa e aposentou as lentes inúteis da câmera.

Quando o filho se suicidou, a filha decidiu fugir de vez pro morro e leu "vamos dar um tempo" no silêncio do marido, os três apresentadores explodiram ao mesmo tempo, ao vivo e a cores, no canal 20.




Kipra, durante o degelo (o segundo) do paraíso, hoje fragmentado nas ilhas do Pacífico, foi um servo fiel. Filho de escravos, foi comprado pelo alquimista da tribo por ser o dravidiano mais belo da feira.

Passou a estudar os livros lamaístas de seu senhor enquanto não era violentado, assim enchia o peito, que nunca amadureceu para sentir saudades, com ensinamentos estranhos. Um dia, na ilha de todos os tons, Kipra inventou a cor cinza. Ao passo que escravos não tinham direito à propriedade, seu mestre se assenhorou da criação.

Kipra, reconhecido como o primeiro melancólico, nunca deixou de ser um servo fiel.