Tenho medo de não viver, de atravessar essa cúpula de vidro e me deparar com um mundo frio. Aqui dentro está quente, mas minha idealização do mundo perdido me leva a crer que pode valer à pena arriscar tudo. Há cerca de 15 anos decidi me prender nesse globo e, com todos mantimentos que precisava, passei a assistir o mundo através da televisão. Aumento de empregos, ascensão nacional, esportes, a formatura dos meus colegas, a vinda do cometa Halley, as festas, as notícias climáticas, as eleições, o aumento da consciência ambiental, os casamentos dos meus melhores amigos, a diminuição da criminalidade, o próspero Natal... eram inúmeras imagens que me faziam pensar sobre a vida. Poderia estar mais seguro em minha cúpula, todavia estava longe de ser uma pessoa completa, estava mais para um simulacro.

Era feriado quando acordei, tomei um café bem forte, digitei a senha de 12 caracteres e abri a porta de aço que me separava da humanidade. Nas ruas que eu via pelo noticiário encontrei fome, mortos, desabrigados, pobreza, luxúria, caos e poluição. Infelizmente minha câmera de vidro não me protegeria dos pensamentos que agora levaria para o resto de vida, por isso decidi que era aquele seria o fim dos tempos.

Novamente em casa liguei os computadores, rasguei minha fantasia de mortal e em frente ao espelho escrevi com fogo o nome Deus em meu corpo. Programei durante 21 dias consecutivos e consegui apagar o plano espacial para recomeçá-lo de novo. Quem sabe não poderia escrever a história melhor que meu Pai ou meu Irmão? Eu era o programador e aquele mundo seria a janela da perfeição; da minha perfeição.

3 comentários:

Anônimo disse...

Esse é um conto realmente e bom e de grande potencial! Espero que haja continuações, a idéia é realmente boa e original =)

Jonatas Tosta disse...

legal. lembrou por um segundo de fallout. parabens!

Jorge Ramiro disse...

Para mim, parece que o filme independente progrediu muito neste últimos meses graças às novas tecnologias, que são mais acessíveis às pessoas. Eu trabalho no adestramento de cachorro e meu filho estudou cinema, ontem eu comprei uma nova câmera digital é excelente.